Um dia dei por mim só. Enfiada num quarto onde nada me era familiar, com uma almofada que não tinha o meu cheiro, com uma caneta abandonada e um pedaço de papel do chão.
Desfeita em lágrimas, sem saber para onde ir, sem saber o que fazer, só as memorias me restavam. Memórias dum tempo em que a palavra amor era aveludada, memorias dum tempo longo que me pareceu escasso, dum tempo que terminou nas mãos de quem amava. Com uma palavra tão simples como: “desisto”, o meu mundo desabou. A luz do sol tornou-se agoniante, o barulho ensurdecedor, as pessoas assustadoras, como se tratassem de demónios prestes a consumir-me.
Já pouco papel me resta e eu não consegui dizer nada, tornei-me instável, sorrio, choro, tenho ataques de raiva, fico melancólica, nostálgica, nada mais que um turbilhão de emoções que me matam.
Não deixei de amar…nem de ser amada, mas sofro, sofro em silêncio, pela guerra que não quiseste travar comigo. Rendo-me e deixo-me amarrar, porque o amor é libertador e a felicidade não pode ser apenas minha.
Não percebo, e provavelmente nunca o conseguirei fazer, o silêncio consome-me a medida que me esqueço dos sons das palavras e percebo, que falar se tornou doloroso e incompreensível. Como se tratasse de uma transformação horrorizante, que me corrói, da pele à alma.
Não percebo nem nunca vou perceber, porque e que havendo amor te tenho de perder.