terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Dei por mim





Um dia dei por mim só. Enfiada num quarto onde nada me era familiar, com uma almofada que não tinha o meu cheiro, com uma caneta abandonada e um pedaço de papel do chão.
Desfeita em lágrimas, sem saber para onde ir, sem saber o que fazer, só as memorias me restavam. Memórias dum tempo em que a palavra amor era aveludada, memorias dum tempo longo que me pareceu escasso, dum tempo que terminou nas mãos de quem amava. Com uma palavra tão simples como: “desisto”, o meu mundo desabou. A luz do sol tornou-se agoniante, o barulho ensurdecedor, as pessoas assustadoras, como se tratassem de demónios prestes a consumir-me.

Já pouco papel me resta e eu não consegui dizer nada, tornei-me instável, sorrio, choro, tenho ataques de raiva, fico melancólica, nostálgica, nada mais que um turbilhão de emoções que me matam.

Não deixei de amar…nem de ser amada, mas sofro, sofro em silêncio, pela guerra que não quiseste travar comigo. Rendo-me e deixo-me amarrar, porque o amor é libertador e a felicidade não pode ser apenas minha.

Não percebo, e provavelmente nunca o conseguirei fazer, o silêncio consome-me a medida que me esqueço dos sons das palavras e percebo, que falar se tornou doloroso e incompreensível. Como se tratasse de uma transformação horrorizante, que me corrói, da pele à alma.

Não percebo nem nunca vou perceber, porque e que havendo amor te tenho de perder.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Troca-me por miúdos




 
Pedes-me que te diga palavras inexistentes
Pedes-me ”troca-me por miúdos o que sentes”
E eu procuro nas palavras que sei que não existem
Eu procuro explicar os sentimentos que persistem
Pedes-me as palavras do nada
Pedes-me sentimentos grandiosos
Pedes-me loucuras
Pedes-me tudo
Pedes-me o inalcançável
Pedes-me o que eu sei ser inigualável
E no meio de letras de palavras que escrevo
E eu te digo
Estas forças que na alma sinto
Não se escrevem
São forças da natureza
Que trago neste meu recanto corporal
Que insiste em bater
São forças da natureza meu amor
Forças que sinto
E tenho prazer em dizer
Porque é amor
E não minto
Desfazer-me de ti é morrer.



Écrit par Danielle Noir pour H.